sexta-feira, maio 19, 2006

O momento mais estranho que eu presenciei foi um parto.
Não por se tratar de um momento mágico, quando a mãe põe no mundo um bebê. Nem pela criança, que sai do conforto do ventre, para ingressar num mundo tão sujo e horrível que todos nós conhecemos muito bem. Mas esse parto, especificamente, foi estranho devido a uma série de fatos, interligados, que o tornaram absurdo e até histórico, eu diria.
A mãe era conhecida na cidade. Principalmente pela população masculina. Ela era digamos, uma profissional da felicidade, fazedora do bem aos marmanjos, benfeitora dos amigos, “amiga-íntima-para-momentos-reservados”. Prostituta mesmo. E não era qualquer uma, não! Era daquelas de luxo, que cobravam uma fortuna, e faziam com que você não a esquecesse por um bom tempo. Alguns dos seus clientes chegavam a pedi-la em casamento, em vão. Mas esses eram zoados quando a galera se reunia para beber, merecidamente.
Seu nome era Candy, tinha seus vinte e cinco anos, cerca de 1,65 m de altura, loira, olhos cor-de-mel. Uma tetéia! Confesso que eu mesmo já havia me consultado com ela.
E então ela parou de prestar seus serviços. Todos ficamos muito preocupados. O que poderia ter acontecido com aquela bela moça? Foram meses de angústia, e várias horas sentados no Bar do Espeto foram gastas debatendo o fato. Até que o Gordo, que estava trabalhando no Hospital Municipal, a viu no pré-natal. Desde então, nos dedicamos arduamente a recolher informações a respeito de tal fato. Entretanto, o que tínhamos de dados naquele momento era o básico, apenas. Sabíamos que ela havia engravidado há oito meses e alguns dias, que ela estava cuidando de tudo sozinha, e que não se interessava em saber quem era o pai, nem o sexo do filho.
Foi nesse momento de apreensão, para saber se a criança nasceria com a cara de algum de nós, que o Carlão teve a brilhante idéia: “Por que não fazemos um bolão? Ganha quem acertar o sexo e o pai da criança!”
Era genial, por que não tínhamos pensado naquilo antes? Como foi o Carlão que teve a idéia mesmo, foi ele quem organizou tudo. Desde o recolhimento da verba até a preparação da tabelinha, feita no Power Point, que foi impressa e distribuída entre os participantes. Coisa de primeiro mundo.
Tirando a imensa ansiedade dos dias que antecederam o parto, tudo correu muito bem. O Gordo, inclusive, mexeu uns pauzinhos no hospital para que nós pudéssemos assistir ao nascimento.
Como havia passado a data limite do parto, o médico o agendou para uma sexta-feira, 20:00 horas, portanto não haveria futebol naquele dia, mas isso não era problema. Saímos dos nossos respectivos trabalhos diretamente pro hospital. O Fred até levou a filmadora da sua esposa, para que tudo ficasse registrado.
Paramos em frente àquela pequena janela de vidro voltada para o interior do quarto. A Candy ficou visivelmente constrangida com nossa presença, mas ela sabia que não havia nada que pudesse fazer para nos impedir de vê-la dar a luz.
Ela entrou em trabalho de parto precisamente às 20:04, o clima era de tensão total, entreolhávamos com receio. Foi quando o Gordo, que tinha pressão-alta, desmaiou e acabou caindo sobre um carrinho de metal cheio de instrumentos cirúrgicos. O Careca deu um grito ainda mais alto que o barulho causado pela queda. Uma enfermeira, espantada com o estardalhaço, saiu correndo, provavelmente para chamar a polícia. Uma senhora que passava pelo corredor agrediu o Márcio com uma bengala. Eu fui atingido por um saquinho de soro, vindo não se sabe de onde. E, pra completar a bagunça, no momento da saída do bebê, a Candy grita: “Puta que Pariu!!!”
“Pelo menos ela não está mentindo”, pensei.
É ou não é de se espantar? Eu e meus amigos nos espantamos, e muito!
Analisando a gravação alguns minutos mais tarde, lá em casa, chegamos a conclusão de que não dava pra afirmar quem era o pai com plena certeza. E que a melhor alternativa era gastar os R$750,00 com um churrasco, no dia seguinte. Assim todos nós ganhávamos. E foi um belo churrasco, aliás!





Ah! Já ia me esquecendo, era uma menina!









o título desse texto era pra ser "estranhice", mas achei muito estranho.

segunda-feira, maio 15, 2006

Um dia aqui
Esperando sair
Mover e mudar
Pra não mais chorar
De olhos fechados
Tentando enxergar
O que já não mais se vê
Está incorporado
Já faz parte de você
E num sono profundo
Permaneço a sonhar
Preciso de alguém
Pra me acordar
Despertar e fugir
Do castelo de ilusões
Que insiste em prender
Diversos corações
Meu silêncio faz barulho
E não me deixa ouvir
O que devo escutar
Pra não mais refletir?
Não adianta calar
Cansaço de fingir
É uma questão de adiar
Esse tal de "sentir"
Os olhos expõem
O que o coração tenta esconder
Fecho a mente
E me vem você



Por Bianca Maia

segunda-feira, maio 08, 2006

Só mais um domingo

Eu tava cansado de tudo aquilo...

Toda aquela gente, seus problemas, suas histórias, seus amores mal-resolvidos. E pra mim nada, nem uma ligação, nem uma preocupação, ninguém se importava, ninguém nunca se importa mesmo.

Mas eu queria que se importassem, que perguntassem, que ligassem. É, eu estava realmente muito solitário. E aquele sentimento só crescia dentro de mim, como uma bolha, que ia tomando conta de tudo.

Talvez eu estivesse cansado, havia trabalhado muito naquela semana. E domingo sempre batia uma “deprê”, mesmo.

Já estou me enganando de novo, é claro que eu não estava sentindo aquela solidão comum, eu estava muito pior, muito acabado.

Acho que aquilo era fruto da distância. Sim, a distância. Ela sempre era a culpada pelas bobagens cometidas, pelas palavras faladas sem pensar, pelos gritos inconseqüentes com aquelas pessoas que não tinham nada a ver com meus problemas.

Àquela altura eu não sabia mais se era dia ou era noite. O tempo passava de forma muito relativa. O rádio já não dava mais noticias, a televisão já não falava algo de útil (se é que ela já o fez), a internet nem para as futilidades me servia mais.

Foi quando eu me dei conta que estava ao telefone, não sabia se ele tinha tocado ou se eu havia ligado, mas isso não era importante. O fato é que eu estava no telefone, e ela também, do outro lado da linha. Eu não sabia se era sua voz de verdade, ou se eu imaginava tudo aquilo. E então ela ordenou que eu desligasse, e que não ligasse nunca mais. Era o fim. No fundo no fundo eu sabia que ele estava próximo, mas não poderia prever que seria tão próximo assim.

Agora sim eu estava no fundo do poço. E ele não era nada agradável se quer saber.

Se alguém me perguntasse o que acontece quando a gente morre, eu usaria aquele momento como exemplo. Era o nada, não havia luz, não havia sentimento, não havia som, não havia dor. Era somente o nada.

Não sei quantas horas se passaram até a campainha tocar, mas quando ela tocou senti uma esperança de que fosse ela, arrependida de tudo que me disse, dizendo que queria voltar a ser minha e que ela estava tão confusa quanto eu. Mas não era ela. “Melhor assim”, pensei. “Não vou ter que presenciar ela cortando as unhas dos pés outra vez”. Aquilo definitivamente me fazia muito mal...

Quem havia tocado a campainha era meu vizinho, ele veio me convidar para uma festinha na casa dele. Havia algumas mulheres e muitas bebidas. Era exatamente do que eu precisava. Embriaguei-me, dancei um pouco, conversei bastante e ainda encontrei uma garota disposta a transar mais tarde.

Finalmente tudo voltava ao normal.